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SESC – Fábrica da Pompéia, a fábrica de poesia

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Camila Martins

Dalila Souza

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O complexo do SESC Pompéia projetado por Lina Bo Bardi em parceria com Marcelo Carvalho Ferraz e André Vainer, nos traz a poética de uma arquiteta Italiana, mas que se apaixonou pela cultura e pelo povo brasileiro.

O local que antes tinha significado de trabalho, nas mãos de Lina torna-se um espaço de lazer. A antiga fábrica de tambores dos Irmãos Mauser que acontecia no Pompéia não teve sua memória apagada no novo projeto, isso percebemos pela preservação da estrutura já existente e por todo conceito adotado pela arquiteta na escolha dos materiais e na conformação espacial. Por esses fatos podemos ver que Lina traz um novo significado ao local, mas não deixa de respeitar a memória do lugar.

“O projeto de Lina é modelo para a cidade que queremos e merecemos. Do diálogo entre a antiga fábrica e o novo edifício nasce o espaço da multidão: da criança à terceira idade. A família e a inclusão de todos os seus membros sempre foi uma característica brasileira. A miscigenação é seu alimento. As pessoas juntas é mais gostoso. Da convivência, há de se produzir uma cultura nossa, mestiça.” (1)

O objetivo de Lina era a concepção de um projeto cultural que se preocupasse com a geração de centros de criação no que diz respeito ao social, principalmente às camadas menos favorecidas. “É a esperança de que a riqueza de formas expressivas que constituem precisamente a maravilha geográfica, etnológica e cultural do Brasil, em sua arquitetura popular e histórica como em suas festas e danças, não se perca ao ritmo de uma industrialização cada dia mais violenta da vida […]” (2)

A presença da Rua

A rua é um dos principais elementos que estruturam o projeto. Ela ganha um sentido que antes era perdido, principalmente numa grande metrópole como São Paulo. Nessa rua as pessoas podem se encontrar, as crianças podem brincar, as conversas acontecem, como existia em tempos atrás, quando a rua era um lugar de convívio.

Lina Bo Bardi sempre se preocupa em como as pessoas vão utilizar o espaço projetado. Ela desejava um espaço que criasse situações e ações, e como ela mesma diz: “Aqui fizemos uma pequena experiência socialista”.

Ao percorrer a rua encontramos os grandes galpões que em seu interior contém áreas destinadas ao estar, exposições, espaço de oficinas, o restaurante e o teatro. Em cada um desses locais, como em todo projeto, Lina pensou em cada detalhe. Cada mínimo encaixe é pensado, como na estrutura do telhado. Na área de convívio ela tem a sensibilidade de abrir um riacho em meio ao concreto e ao seu lado coloca uma lareira já prevendo os dias frios de São Paulo. No teatro pensa algo diferente, pensa num espaço onde público estaria em dois lados. Com essas pequenas atitudes Lina provoca a pessoa a ação e a participação, ela deseja que as pessoas experimentem uma nova maneira de estar no lugar.

Figura 2: A rua.
Figura 3: O rio no espaço de estar.

As torres

A outra parte do projeto é a área destinada aos esportes. Nesse local passa um córrego encanado, constituindo assim uma área não edificável. A solução adotada foi de criar um deck ao longo de toda essa área. O terreno fica assim, dividido em dois, a arquiteta pensa então em duas torres que se ligam por meio de passarelas. A mais esguia se destina a circulação e vestiários e a outra concentra as quadras e piscina. Ao lado fica a torre de caixa d’água.

Com aspecto despojado e brutalista, os edifícios são classificados pela própria Lina como uma referência aos fortes brasileiros: “Reduzida a dois pedacinhos de terra, pensei na maravilhosa arquitetura dos ‘fortes’ militares brasileiros, perdidos perto do mar, ou escondidos em todo país, nas cidades, nas florestas, no desterro dos desertos e sertões. Surgiram, assim, os dois “blocos”.

Figura 4: Os blocos de esporte.

Figura 5: As rampas de ligação dos blocos.

Nessas torres podemos ver também uma preocupação da arquiteta de deixar que as pessoas participem e vivam o projeto. Isso, desde a concepção inicial, na prática da construção. Lina instalou seu atelier no canteiro e ali as idéias iam acontecendo, junto com os operários e técnicos ela pensava o projeto. A solução para a construção da torre de caixa d’água, uma forma de 1 metro de altura deslizando para concretagem até formar os 56 metros da torre, foi uma das idéias dos construtores adotada pela arquiteta. Em outro momento, na construção dos “buracos” do prédio esportivo, Lina desejou que os operários ajudassem na definição das formas vazadas.

Por todos esses fatos vemos que a idealização do SESC – Fábrica Pompéia de ser um espaço de integração e participação do povo teve êxito nas mãos de Lina Bo Bardi.  Isso porque era uma idéia defendida por ela, mas não só uma idéia e sim uma prática, pois a arquiteta fazia questão de participar de cada detalhe do projeto. Ela desejava que o SESC fosse mais que um simples complexo esportivo ela queria um local onde a sociabilidade acontecesse, por isso Lina diz: “Assim, dediquei meu trabalho da Pompéia aos jovens, crianças, à terceira idade. ”todos juntos”.

Figura 6: O “buraco” no prédio das quadras.
Figura 7: A torre da caixa d’água.

Notas

1.       ZEIN, R. V. Fábrica da Pompéia para ver e aprender. In: Revista Projeto, 1986. p. 56

2.       ZEIN, R. V. Fábrica da Pompéia para ver e aprender. In: Revista Projeto, 1986. p. 58

Bibliografia

Projeto. São Paulo, n.92, p.57-60, out, 1986.

SANTOS, Cecília Rodrigues dos. SESC – Centro de Lazer = SESC – Pompéia Factory/ SESC. São Paulo: Blau, 1996.

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